Com fusão, operação brasileira receberá R$ 200 milhões
A startup francesa Swile, de benefícios, acaba de entrar no país, numa fusão com a brasileira Vee, que desde 2018 opera no segmento. O acordo envolveu troca de ações e prevê a injeção de R$ 200 milhões para expandir a operação nos próximos dois anos. Os recursos são provenientes das captações feitas pela Swile no exterior, que somam € 111 milhões, em três rodadas de aportes liderados principalmente pela empresa de “venture capital” Index Ventures.
O Brasil é o maior mercado do mundo em benefícios corporativos, como vale-refeição e vale-alimentação, movimentando cerca de R$ 150 bilhões ao ano. A liderança do setor está nas mãos de três grandes companhias: a brasileira Alelo e as francesas Sodexo e Edenred, dona da Ticket.
O tamanho do mercado brasileiro chamou a atenção da Swile, que em junho de 2020, após concluir sua terceira rodada de investimentos, anunciou que iniciaria a expansão internacional por aqui. A Vee, por sua vez, conversava com fundos de “venture capital” para alavancar seu crescimento. Hoje, conta com 50 mil beneficiários ativos e 800 empresas clientes.
“A gente já estava numa fase de rodada de captação. E mapeava inclusive a Swile como possível concorrente no Brasil” , lembra Marcelo Ramos, fundador e presidente do conselho da Vee. Em setembro, as duas startups acabaram conversando e, com modelos de negócio muito semelhantes, começaram a desenhar um acordo. A assinatura do contrato ocorreu poucos meses depois, na metade de janeiro.
Tanto a Swile quanto a Vee apostam na oferta flexível de benefícios a partir de um único aplicativo. O empregador faz o crédito na carteira virtual do funcionário, determinando a alocação de recursos em “bolsos” específicos, como alimentação, mobilidade, cultura, despesas com home office, com farmácias etc.
A decisão de como dividir o dinheiro, porém, não é totalmente livre. Precisa seguir as regras da legislação trabalhista brasileira e os acordos coletivos das diversas categorias profissionais. O valor destinado à alimentação, por exemplo, não pode ser transferido para outras despesas.
A demanda por mais flexibilidade no pacote de benefícios oferecido aos funcionários é uma tendência que ganhou força na pandemia. As medidas de isolamento fizeram parte dos trabalhadores diminuir gastos com transporte, mas aumentar despesas com internet em casa, por exemplo. “Crescemos mais de 30 vezes na pandemia” , diz Raphael Machioni, CEO e cofundador da Vee.
Startups como a Vee e Swile, no entanto, não foram as únicas a detectar essa demanda. Em junho, a Sodexo lançou um cartão multibenefícios e, em novembro, foi a vez da Alelo. Desde 2018, a Edenred oferece o Ticket Pagamentos, um cartão pré-pago que também permite cobrir gastos diversos.
Embora também atenda grandes empresas, como a Whirlpool, a Vee traçou sua estratégia de crescimento com foco principalmente nas pequenas e médias empresas, que representam uma parcela menor da base de clientes dos grandes rivais. Os planos de expansão, a partir do investimento de R$ 200 milhões (destinado a marketing, contratação de pessoal, desenvolvimento de produto e tecnologia) são ambiciosos: chegar a R$ 2 bilhões transacionados por meio da plataforma de benefícios até o fim de 2022. No fim do ano passado, a Vee movimentou R$ 73 milhões. “Tem muita oportunidade, R$ 2 bilhões não representam nem 1% do mercado, há muito espaço para crescer” , diz Machioni.
Ele, Ramos e Eduardo Haidar, também cofundador, continuam à frente do negócio no país após a fusão. A princípio, segundo eles, as marcas Vee e Swile vão coexistir por aqui, mas podem ser unificadas mais adiante.